domingo, 13 de maio de 2012

Quilombo São José

Vencer o medo
Entrar na roda
Rodar a saia
que eu não vestia
Mas que ainda assim girava
feito minha cabeça
e as cores de gente em volta
Com a licença das almas
e a benção dos tambores
jonguei-me.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Beliscadinha

Quando a gente passa a vida ou boa parte dela convivendo com a invenção de que príncipe encantado existe, é até compreensível a confusão de sentimentos que nos invadem ao encontrar um cara que elogia não só sua beleza, como sua inteligência, e parece fazer questão da sua companhia. (Coisas desnecessárias caso o objetivo seja apenas te comer.)
 Imagine então que, embora você esteja conquistando a consciência em relação ao que realmente tem valor e beleza, sua auto-estima ainda não é lá essas coisas e o rapaz, além de te dar apelidos originais, ensaboa seus pés como quem faz o mais feliz dos ofícios e te massageia as costas com hidratante: as mina pira!
 A loucura é tanta que você sorri por fora, mas percebe que as desilusões vivenciadas anteriormente te fazem sentir medo de tudo aquilo ser uma piada de mau gosto e quase perguntar onde é que está a câmera. Por pouco, quase perdemos a chance de sermos tratadas maravilhosamente bem, apenas por não estarmos acostumadas àquilo, embora saibamos em nosso íntimo que “é assim que deveria ser”.
 Posso afirmar que ouvir a frase acima de um homem ajoelhado, lavando seus pés e te olhando como se você fosse uma deusa é uma sensação que todos deveriam sentir, tenho certeza que a vida teria bem mais qualidade.
 O que não dá é, quando ouvir que “quando a gente casar, vamos ter dois chuveiros”, enlouquecer e achar que no dia seguinte vai se mudar de mala e cuia pra casa do “homem-da-sua-vida”. O melhor a fazer é se dar uma beliscadinha, agradecer pelo sonho estar sendo realidade e aproveitar esse banho, tendo noção de que é apenas o primeiro (mas que talvez possa ser o último).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Aldeia Velha

Acordar quando o calor impede o sono
Cama boa é pedra,
mão na agüinha,
cor de verde de verdade

Espelho, relógio, sapato, eu passo
Nada disso é preciso pra ser feliz no mato

De noite, a lua cheia ilumina e faz sombra,
a caminhada mágica dispensa eletricidade

Voltar é concluir que na cidade nada faz sentido.

sábado, 17 de março de 2012

Para Ericson Pires

Pelo celular chega a explicação pra esse sábado nublado:
O poeta se foi.
Emendo lembranças e as orações que ainda sei.
Pela janela do ônibus, o sol resiste e brilha nas águas da Lagoa.
É ele.
É nesse instante precioso que as lágrimas vêm.

segunda-feira, 12 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Respeitar-se é ter o coração leve e a consciência tranqüila em relação ao lugar ocupado no momento. Ouvir, ponderar e entender se o lugar em que me encontro tem o tamanho que eu quero ou acredito ter.
É comum espremer-se, apertar-se, ficar em pé em salas de espera e contentar-se com qualquer cantinho. Mais difícil é, justamente por querer demais, preferir o inteiro, ainda que depois (ou mesmo nunca).
Uma mordida pode ser boa, mas não será melhor que uma fatia.
Não aprendemos a lidar com segurança e doçura com a vontade. Em nome dela apostamos corrida com o silêncio, subestimamos as intuições e nos precipitamos, quase nunca indo além da superfície.
As palavras, já raras, se perdem. Como se não houvesse tempo para e o interesse não perpassasse exatamente por elas.
Colecionamos livros e ficamos sabendo deles apenas o título e o final. Quero o repousar na cabeceira, o prazer de ler sem pressa, saboreando e conquistando cada página.
E caso isso não seja possível, que haja sagacidade para reconhecer o destino de ser empilhada nas estantes alheias e sabedoria para resistir, quando houver a consciência de que meu lugar é outro.