segunda-feira, 21 de março de 2011

Sobre a urgência.

Acordei. Na boca, o gosto amargo do vinho de ontem. Antes de abrir os olhos refaço os passos que dei até chegar à minha cama. Passos tontos, através deles, chego também as palavras. Desejo com força que tenha sido sonho. Mas não foi. Lembro das cores, do movimento, dos rostos, de alguns, é verdade. Lembro também das besteiras que disse e de como me portei. Já não sei se quero acordar, mas agora é tarde. Dormir mais não vai apagar a noite de ontem, embora a memória que tenho dela não seja nítida. Ainda assim me lembro, da música, do êxtase, do vinho, de um beijo, do argumento de que confiar no acaso é mais bonito que pegar meu telefone, dos segredos que eu não devia ter exposto em uma mesa de bar, das mensagens enviadas sem resposta antes de dormir. E, apesar de tudo, não me culpo, tenho urgência correndo nas veias. E ajo desesperadamente pra fazer as coisas acontecerem, dou passos maiores que minhas pernas, tropeço, mas continuo correndo na tentativa de encurtar o caminho entre eu e o amor que carrego no nome. Tenho urgência. A cada encontro, minha imaginação se delicia com as possibilidades futuras e, antes que eu queira, ela já construiu planos, pontes, travessia, vida inteira pela frente. Me joga sem paraquedas pra fora do avião e eu acredito que vai ter alguém lá embaixo esperando pra me segurar. Quase nunca tem. Mas eu tenho urgência: eu sempre acredito.