terça-feira, 2 de outubro de 2012

Bilhete


Faz sete meses que a gente se encontra,
quase sempre depois das três da manhã

Você vai embora pra França
e eu percebi que não saberia descrever o formato dos seus dentes,
nem explicar de onde seu sobrenome vem

Embora não precise fechar os olhos pra lembrar
da temperatura, do gosto e do tamanho do seu pau
Sempre que eu lembro, eles se fecham involuntariamente

Por enquanto, isso é um bilhete de despedida
Sendo assim, eu posso dizer que
gosto muito de você de camisa branca
e do fato de você me chamar sempre de menina

Quando cê voltar, talvez isso possa ser poesia

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Delírio tropical

Caminhar no verão ao meio-dia:
suor pinga e o Sol me desafia
Febril, sempre penso
Haverá um tempo em que mulher
vai poder tirar camisa?

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por um triz.

São dez e meia da manhã de uma terça-feira nublada. Mas não choro por estar nublado. Nem choro porque estou ouvindo uma música triste. Choro porque carrego em mim uma terça-feira nublada e uma música triste. Elas rolam de meus olhos em formato de pérolas. E eu sinto como um milagre. Chorando colares de pérolas que não adornarão pescoços nenhum, pois secam antes de chegar lá. Chorando colares de pérola dentro do mar, perdendo as contas, segurando as pernas, deixando água entrar pela boca, nariz, deixar de respirar. Mas sempre existe um fiapo de existência que não deixa os olhos fecharem de uma vez, que faz eu me debater e procurar a superfície. Por pouco, não sei deixar de estar viva. Essa força inevitável e brutal que me pede a coragem que eu não sei se tenho. Penso que se ela me pede é porque tenho. Tenho que desistir de desistir, nadar pra cima, achar o céu e contemplá-lo. E agradecer por mais uma vez estar olhando para ele e saber enxergar sua beleza. Por não ter afundado, por saber boiar. Por um fiapo de existência. Por um triz.



domingo, 5 de agosto de 2012

Pernalonga

Do que no passado foi piada
hoje acho graça quando tenho pressa.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Acordei com a vontade de ser o Sol
que invade sua cama, mas não incomoda,
te puxa pra vida.
E quando tu vê tá cantarolando
música que você não sabe de onde vem
Quero ser essa música,
que não precisa de esforço pra lembrar, só saber assoviar
Morar dentro de você, passarinho cantando eu te amo
E trazer pra qualquer segunda-feira a beleza dos domingos sem pressa.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não foi dessa vez

Nada pior que se sentir idiota sabendo que você não é. Achar um desperdício essas lágrimas que eu não consigo conter. A idéia era simples. Mas aí cê disse que me amava, me chamou pra morar com você e ainda que a gente tivesse louco, me deixou mais segura. Tu me mostrou os seus segredos, confiou e eu também. Deu liga, concluímos. Não posso dizer que eu não sabia que tu tem mil motivos que despertam minha admiração, mas pouco tempo de dedicação. Eu sabia e a gente tava dando um jeito. Também sabia que tu tem admiração não só de mim e que gosta disso. Entendi sua vaidade.
Só não consigo entender em um mundo em que somos livres como jamais fomos, não haver jogo aberto. Ou talvez o nome seja educação. Responder uma mensagem, quando eu sei que tu vive grudado no Iphone. “Lá não pega direito” não pega mais, amor. E é claro que eu não tô escrevendo esse texto doído só porque tu não respondeu uma mensagem na hora e do jeito que eu queria. O lance é que se sentir cozinhada é fogo. Preterida então, nem se fala. Mas a oferta é grande, né? Tava implícito desde o início. Mas por mais que eu soubesse que estava pisando em terreno irregular, me percebo despreparada perante uma foto. Pode nem ser nada e, teoricamente, se fosse, tinha que poder também. Mas não segurei a onda. 
E me pergunto se realmente tenho que segurá-la. Segurar a onda cansa. É assim que me sinto: cansada. Do morde e assopra. Quando a minha vontade era aparecer nua na porta da sua casa de madrugada. E o que me deixa mais bolada é que ainda que eu escreva esse texto, prometa a mim mesma que não vou mais stalkear, nem mandar inbox ou mensagem, não sei se terei essa fibra se você o fizer. E, cogitando essa possibilidade, assumo que não consigo me despir de esperança. Concluo então que esse mundo doido quase me bota a perder uma das coisas mais bonitas que o homem carrega. Não foi dessa vez. Sigo vestida.

sábado, 26 de maio de 2012

Viagem

Chegando ao trabalho,
a vitrine da loja de motos:
preta, branca, vermelha e amarela,
que nem a sua
Cabelo solto no vento,
sinal fechado,
sua mão na minha coxa...
Viagem que todo dia quase me faz perder o ponto.

domingo, 13 de maio de 2012

Quilombo São José

Vencer o medo
Entrar na roda
Rodar a saia
que eu não vestia
Mas que ainda assim girava
feito minha cabeça
e as cores de gente em volta
Com a licença das almas
e a benção dos tambores
jonguei-me.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Beliscadinha

Quando a gente passa a vida ou boa parte dela convivendo com a invenção de que príncipe encantado existe, é até compreensível a confusão de sentimentos que nos invadem ao encontrar um cara que elogia não só sua beleza, como sua inteligência, e parece fazer questão da sua companhia. (Coisas desnecessárias caso o objetivo seja apenas te comer.)
 Imagine então que, embora você esteja conquistando a consciência em relação ao que realmente tem valor e beleza, sua auto-estima ainda não é lá essas coisas e o rapaz, além de te dar apelidos originais, ensaboa seus pés como quem faz o mais feliz dos ofícios e te massageia as costas com hidratante: as mina pira!
 A loucura é tanta que você sorri por fora, mas percebe que as desilusões vivenciadas anteriormente te fazem sentir medo de tudo aquilo ser uma piada de mau gosto e quase perguntar onde é que está a câmera. Por pouco, quase perdemos a chance de sermos tratadas maravilhosamente bem, apenas por não estarmos acostumadas àquilo, embora saibamos em nosso íntimo que “é assim que deveria ser”.
 Posso afirmar que ouvir a frase acima de um homem ajoelhado, lavando seus pés e te olhando como se você fosse uma deusa é uma sensação que todos deveriam sentir, tenho certeza que a vida teria bem mais qualidade.
 O que não dá é, quando ouvir que “quando a gente casar, vamos ter dois chuveiros”, enlouquecer e achar que no dia seguinte vai se mudar de mala e cuia pra casa do “homem-da-sua-vida”. O melhor a fazer é se dar uma beliscadinha, agradecer pelo sonho estar sendo realidade e aproveitar esse banho, tendo noção de que é apenas o primeiro (mas que talvez possa ser o último).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Aldeia Velha

Acordar quando o calor impede o sono
Cama boa é pedra,
mão na agüinha,
cor de verde de verdade

Espelho, relógio, sapato, eu passo
Nada disso é preciso pra ser feliz no mato

De noite, a lua cheia ilumina e faz sombra,
a caminhada mágica dispensa eletricidade

Voltar é concluir que na cidade nada faz sentido.

sábado, 17 de março de 2012

Para Ericson Pires

Pelo celular chega a explicação pra esse sábado nublado:
O poeta se foi.
Emendo lembranças e as orações que ainda sei.
Pela janela do ônibus, o sol resiste e brilha nas águas da Lagoa.
É ele.
É nesse instante precioso que as lágrimas vêm.

segunda-feira, 12 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Respeitar-se é ter o coração leve e a consciência tranqüila em relação ao lugar ocupado no momento. Ouvir, ponderar e entender se o lugar em que me encontro tem o tamanho que eu quero ou acredito ter.
É comum espremer-se, apertar-se, ficar em pé em salas de espera e contentar-se com qualquer cantinho. Mais difícil é, justamente por querer demais, preferir o inteiro, ainda que depois (ou mesmo nunca).
Uma mordida pode ser boa, mas não será melhor que uma fatia.
Não aprendemos a lidar com segurança e doçura com a vontade. Em nome dela apostamos corrida com o silêncio, subestimamos as intuições e nos precipitamos, quase nunca indo além da superfície.
As palavras, já raras, se perdem. Como se não houvesse tempo para e o interesse não perpassasse exatamente por elas.
Colecionamos livros e ficamos sabendo deles apenas o título e o final. Quero o repousar na cabeceira, o prazer de ler sem pressa, saboreando e conquistando cada página.
E caso isso não seja possível, que haja sagacidade para reconhecer o destino de ser empilhada nas estantes alheias e sabedoria para resistir, quando houver a consciência de que meu lugar é outro.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Clipes!

Algumas pessoas dizem que eu deveria aproveitar melhor o blog no sentido de divulgar as coisas que eu acho bacana e o faço pelo facebook e twitter, por exemplo. Eu concordo. Essa semana rolaram várias estreias de clipes, então vamos a eles. ;)











terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nada como um dia suado pra dar valor à água que lava o sufoco,
traz o suspiro de dever cumprido
e renova a fé de que o que trago no peito é raíz forte
pronta pra varar terra, correr mundo
No travesseiro, pensamento gira, mas o coração acredita:
“Amanhã vai ser outro dia”, já cantou o poeta
Pois eu digo que vai ser melhor.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Amor-passarinho:

O mundo, sua casa.
Meu peito, seu ninho.